segunda-feira, 16 de março de 2009

TWITTER

O Twitter vê e mostra tudo (*Trechos do texto original)

Um serviço global de mensagens rápidas desafia os hábitos de comunicação e reinventa o conceito de privacidade

Por: Ivan Martins e Renata Leal. Com reportagem de Rafael Pereira e Mariana Queiroz

Vivemos a era da exposição e do compartilhamento. Público e privado começam a se confundir. A ideia de privacidade vai mudar ou desaparecer.

O trecho acima tem 140 caracteres exatos. É uma mensagem curta que tenta encapsular uma ideia complexa. Não é fácil esse tipo de síntese, mas dezenas de milhões de pessoas o praticam diariamente. No mundo todo são disparados 2,4 trilhões de SMS por mês, e neles cabem 140 toques ou pouco mais. Também é comum enviar e-mails, deixar recados no Orkut, falar com as pessoas pelo MSN, tagarelar no celular, receber chamados em qualquer parte, a qualquer hora. Estamos conectados. Superconectados, na verdade, de várias formas. Há 1,57 bilhão de pessoas que usam a internet e 3,3 bilhões com celulares – e as duas redes estão se fundindo. Há uma nova sintaxe em construção, a das mensagens. Práticas da internet migraram para o mundo do celular e coisas do mundo do celular invadiram a rede de computadores. A difusão de informação digital iniciada pela web em 1995 está se aprofundando e traz com ela mudanças radicais de costumes. As pessoas não param de falar e não querem parar de receber. Elas querem se exibir e querem ver. Tudo.

A grande novidade do Twitter é o ritmo. Por algum motivo
inexplicável, as pessoas não param de trocar mensagens

O mais recente exemplo da demanda total por conexão e de uma nova sintaxe social é o Twitter, o novo serviço de troca de mensagens pela internet. Criado em 2006, decolou no ano passado e já tem 6 milhões de usuários no mundo. O Twitter pode ser entendido como uma mistura de blog e celular. As mensagens são de 140 toques, como os torpedos dos celulares, mas circulam pela internet como os textos de blogs. Em vez de seguir para apenas uma pessoa, como no celular ou no MSN, a mensagem do Twitter vai para todos os “seguidores” – gente que acompanha o emissor. Podem ser 30, 300 ou 409 mil seguidores, como tem Barack Obama. Essa estrutura de troca de mensagens é nova, mas não é o principal.

A grande novidade do Twitter é o ritmo. Por algum motivo inexplicável, as pessoas não param de trocar mensagens. O site do Twitter tem uma pergunta básica – “O que você está fazendo?” – e todo mundo responde, várias vezes ao dia: contam que estão almoçando, dizem que o ônibus quebrou, avisam ter visto uma celebridade. Como é possível postar do celular, os twitteiros não descansam na narração do trivial. É um fluxo contínuo de minudências que os americanos chamam de “intimidade ambiental”. A comunicação é rápida e contínua, uma pequena e organizada gritaria digital. Visto de fora parece histérico, mas para os envolvidos soa natural. E é um sucesso.

O Twitter cresce de forma explosiva. Segundo dados da consultoria americana Compete, especializada em estatísticas para a internet, o número de usuários saltou de 600 mil para 6 milhões em um ano. É a rede social que mais cresce nos Estados Unidos, por várias razões. Durante as eleições americanas, tanto Obama quanto John McCain mantiveram seus perfis no Twitter sempre atualizados. Obama ainda é a pessoa mais seguida. Só perde para a rede de notícias CNN. No fim de novembro, durante os ataques terroristas em Mumbai, na Índia, o Twitter se destacou na mídia. Vários twitteiros transmitiram informações e fotos da cidade, mostrando os danos do ataque que matou 173 pessoas e feriu mais de 300. Essa facilidade de informar com rapidez é um dos atrativos do serviço. Já são vários os casos de notícias que surgiram no Twitter antes de chegar ao rádio e à televisão. Em janeiro, quando um avião fez um pouso forçado no meio do Rio Hudson, em Nova York, a primeira notícia saiu no Twitter. “Há um avião no Hudson. Estou numa balsa que está indo resgatar as pessoas. Louco”. Do barco, o mesmo usuário mandou uma foto do avião pousado na água. Há duas semanas, médicos do hospital Henry Ford, em Detroit, nos Estados Unidos, narraram pelo Twitter o passo a passo de uma complicada cirurgia para extração de um tumor maligno do rim. E há as celebridades. O jogador de basquete Shaquille O’Neal posta mensagens o tempo todo. Britney Spears tem milhares de seguidores. O Dalai-Lama pode ser lido no Twitter e o brasileiro Paulo Coelho também. Dias atrás, a atriz Demi Moore reclamou do seu vizinho barulhento no Twitter. Ao seguir no Twitter essas pessoas famosas, as pessoas normais sentem fazer parte da vida e do cotidiano delas. Há certa magia nisso.... [...]

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