domingo, 11 de setembro de 2005

Hoje tá um puta frio aqui em Floripa e nada melhor do que um texto do Mário Prata (que também mora aqui) sobre o vento sul, nosso velho companheiro. Quando morava em SP não entendia porra nenhuma sobre ventos, marés; não fazia idéia de quando o tempo ia mudar. Agora, depois de 5 anos aqui, já reconheço alguns sinais da natureza, já sou menos "caipira de cidade grande". Pois é, vivendo e aprendendo....


"Outro dia falei aqui do mar, que eu descobri recentemente. Agora vou soprar o vento.

É, também não conhecia o vento, até vir morar numa ilha. E quando eu falo em vento, estou me referindo àquele que venta sozinho, sem prédios para interromper seu vôo, como acontece em São Paulo. Vento puro, eu quero dizer, aquele que tem começo, meio e fim. O vento naturalmente natural.

Logo que cheguei aqui comecei a ouvir falar nos ventos. São vários e seu nomes vêm da origem geográfica, obviamente. Vento Norte, Vento Sul, Sudoeste, etc. Mas o mais famoso, o vento, é mesmo o Vento Sul.

Inesquecível.

Pois sábado teve Vento Sul, pra deitar e rolar. Pra começar ele inverte a posição das ondas do mar. É bravo, mas já é conhecido da população. Às vezes, pode até derrubar uma pessoa desavisada na rua. Mas não machuca. O Vento Sul não é do mal. O Vento Sul faz bem. Pode, e faz, inverter os guarda-chuvas e as sombrinhas, mas é apenas para divertir a quem assiste ao espetáculo. Levanta as saias das moças, balança os seios, derruba laquê.

Quando chega, as gaivotas andam a pé e de cabeça baixa, porque não são idiotas. Os bem-te-vis somem. Onde ficam?, jamais saberemos.

Vem do mar, é também um fruto do mar. Agita a areia, balança as árvores, faz caírem as folhas secas, limpa as ruas, fecha o aeroporto, abre suas asas sobre nós, assovia nas janelas um gemido doido, balança a pança e depois vai embora, o velho guerreiro. O Vento Sul faz parte desta ilha.

Pois aqui na ilha tem um barco de turismo, um hotel e uma pousada com o nome de Vento Sul. Motel, não sei, mas o nome seria até apropriado.

Ele pode ser seco, como o de sábado, ou molhado, quando traz a chuva junto.

Dois estilos, duas belezas. Com água, lava a ilha, rega as plantas, limpa as vidraças, assovia mais forte. Mas é quando tem sol que ele mais brilha. E no sábado, de noite, a Lua cheia testemunhava, toda risonha, seu doce balanço a caminho do mar (desculpe, não resisti à idéia fácil)..."

(Trecho da crônica "O Vento Sul" - website Mário Prata)

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