quarta-feira, 1 de abril de 2009

T P M

Em homenagem à minha, que hoje tá braba, alguns textos sobre ELA!!!
Quando eu sei que ELA tá braba?? Quando choro de soluçar assistindo o final do filme Impacto Profundo!!
Nem pergunte.....................


TPM NO TRÂNSITO

Acordei inchada e irritada, um sapo-boi com instintos assassinos, em plena TPM. Pulei até a garagem, saltei dentro do carro e mergulhei no trânsito em busca de encrenca. A primeira vítima foi um motorista que buzinou quando eu tentava pegar o celular que havia caído no vão inacessível entre o banco e o console do carro. Enquanto eu tentava pegar o maldito telefone, o semáforo abriu e o homem do carro atrás de mim começou a buzinar sem parar. Desliguei o motor, desci do carro, tranquei a porta e fui até a janela do motorista. Bati no vidro, verde de raiva: - O senhor tem idéia de que dia é hoje na minha vida, pra ficar buzinando deste jeito? Por acaso o senhor sabe se morreu alguém na minha família hoje cedo? O homem, assustado, abriu metade da janela de vidro e tentou se explicar: - Desculpe, meus sentimentos, eu não sabia que... - Não, não morreu ninguém, pra sua sorte. Mas e se tivesse? Por acaso o senhor sabe da vida da pessoa que está no carro da frente pra ficar buzinando assim? Sabe se tem alguém que perdeu a mãe, alguém que perdeu o emprego, alguém que perdeu o marido? Eu, por exemplo, perdi o meu celular e estou prestes a perder minha cabeça! E assim, com todos os carros buzinando na minha orelha, abri a porta, liguei o motor e saí. Menos de duzentos metros depois um motorista mandou a clássica “volta pro tanque, dona Maria!” Dona Maria? Tanque? De forma alguma. Puxei o freio de mão, desliguei o carro, desci, tranquei a porta e fui até o autor do absurdo. Bati no vidro. - Quem foi que disse que o meu nome é Maria? Quem foi que disse que eu lavo a roupa no tanque? E se meu nome for Suely e eu tiver máquina de lavar? E se eu for a Lindalva e mandar toda minha roupa pra tinturaria? O homem olhou espantado e começou a manobrar o carro pra tirá-lo de trás do meu. Eu não conseguia parar de levantar hipóteses. - E se minha mãe tiver me batizado de Ismênia e tiver uma empregada que lava no tanque pra mim? A última eu gritei bem alto: - E se o meu nome for Tanque e eu lavar minhas roupas na Maria??? Voltei pro carro, decidida a me controlar. É perigoso sair do carro no meio do trânsito e tirar satisfações com as pessoas, especialmente aquelas que já são agressivas. Parei no semáforo e comecei a respirar fundo. Sem querer, avancei a faixa de pedestres. Um rapaz que passava teve que desviar do meu carro, olhou bem pra mim e disse: - Só podia ser mulher. Foi a gota d’água. Mudei de idéia quanto a ficar quieta. Desci do carro, sem trancar a porta e voei pra cima do garoto. - Escuta aqui, rapaz, eu sou mulher mesmo! E estou de TPM! E com vontade de esganar alguém! E você me parece um ótimo candidato! Foi quando um guarda de trânsito bateu no meu ombro e mandou que eu voltasse imediatamente para dentro do meu veículo. - Ah, seu guarda, desculpe, é que eu estou muito nervosa, sabe... Olha, meu nome é Maria, muito prazer. Então, eu estava lavando roupa no tanque e aí eu ouvi um barulho e vi que minha avó tinha caído no chão... mortinha da silva, coitada... aí eu peguei o carro pra avisar minha irmã... e... bem... sabe como é mulher... a gente fica meio irritada nesse período...TPM, já ouviu falar? Antes que eu pudesse terminar meu raciocínio, o guarda me entregou uma multa gravíssima. E ainda disse que só não ia me levar pra delegacia porque o rapaz que eu quase agredi não queria prestar queixa. Peguei a multa, entrei no carro, botei o cinto, liguei o motor e esperei o semáforo abrir pensando que boa parte dos problemas do trânsito poderia ser resolvida se nenhuma motorista tivesse TPM. O semáforo abriu e quando fui acelerar pisei em cima do celular. Tem dias que a gente realmente acorda querendo ver sangue.

Rosana Hermann

TUDO E MAIS UM POUCO

Vou cedinho na depilação. Pior coisa que eu podia ter feito na minha vida. Como dói depilar. Mais do que qualquer coisa no mundo. A mocinha da depilação ganha mordidas, socos, arranhadas e puxadas no braço. Ela só me perdoa porque sabe como é ser mulher. Depois é a vez de a manicure e o cabeleireiro apanharem. Secar o cabelo dói, lavar o cabelo naqueles lavatórios dói demais, tirar a cutícula dói. E eu juro, para espanto de qualquer pessoa a minha volta, que nada disso é frescura. Levo um choque na porta do carro. Bato o dedinho de leve no volante. Meu pé dá câimbra cada vez que o trânsito anda. Tudo dói demais. Como dói. Mudo a rádio e meu dedo dói. Como se não bastassem todas as coisas pelo meio do caminho que esbarram, batem e encostam em mim, ainda tem a dor de cabeça, na nuca, nos ombros, no peito, na lombar e nas coxas. É dor por fora e dor por dentro. Existir dói. Dia de TPM deveria ser feriado nacional. Quer dizer, melhor não, porque aí era preciso que todas as mulheres ficassem de TPM ao mesmo tempo e se isso acontecesse provavelmente o mundo já teria acabado. Mas ninguém tira da minha cabeça que deveria ser um dia pra gente ficar trancada em casa, depois de forrar tudo com almofadas e acolchoados. Vendo filme bobo, chorando, comendo brigadeiro e com acesso proibido ao mundo para não brigarmos com ninguém. Mas não é feriado e, pra piorar, ainda costuma ser um daqueles dias em que a casa cai. E você que tava com dor nos pés por causa do salto alto ou incomodada com um simples elástico prendendo o seu cabelo, precisa agüentar uma casa inteira caindo sobre você. Justo no dia em que você está mais sensível. Não é fácil. O café queima a sua língua de uma maneira que nunca queimou, o papel faz cortinhos na sua mão, a água da pia congela seu sangue, um não causa coisas irrecuperáveis na sua alma, um aperto de mãos machuca, tapinhas nas costas não são bem vindos, o olhar dos outros te fura, qualquer som é um tapa nos seus ouvidos. A luz está muito forte hoje, incomoda, o ar pesa, as vozes misturadas parecem um show insuportável de uma dessas bandas de rock que não entende nada de rock, um simples tamborilar de dedos na mesa parece uma cavalgada de guerreiros inimigos que querem passar por cima de você. Nesses dias tudo o que eu mais quero é que venha logo a minha cólica, pelo menos aí eu vou saber onde está doendo. Melhor do que essa sensação de que absolutamente tudo dói. Tudo e mais um pouco.

Tati Bernardi


Um comentário:

Juliana Franco disse...

Muito bom...
É exatamente como me sinto naqueles dias.
Adorei a idéia do feriado...