sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Danuza Leão, SP e o verão......

Estou de férias. Férias da facu, do trabalho, dos problemas da casa (nem tanto). Morar em Floripa é quase sempre como estar de férias. Podemos nos dar ao luxo de pedalar no calçadão da Beira Mar a qualquer hora e ir à praia num dia de semana maravilhoso, 30 graus na sombra.

Mas estou voltando de São Paulo, e pra falar a verdade, sempre que volto de lá deixo um pedacinho meu. Nasci lá e sempre gostei do ritmo e do jeitão da cidade. Do lugar onde nascí, ZL, nem tanto, mas têm alguns lugares que me encantam. O parque do Ibirapuera, onde assisti a tantos shows (na faixa), a região da Paulista, onde sempre ficava perambulando quando não tinha pra onde ir. Lá sempre tinha um cinema daqueles (como o Astor 1 do Conjunto Nacional que pelo o que percebi fechou), o MacDonalds da mansão cor de rosa (que eu adorava), aquelas igrejinhas antigas e lindas, as lojas de vinil , como a maravilhosa London Calling (ai, que horror, sou do tempo do vinil!!). Adoro também toda a região da Liberdade, a feirinha (tempurá!!), as lojinhas com aquelas coisas diferentes. Quanto aos shoppings (que eu adoro, tenho que confessar), tenho dois preferidos. O Anália Franco, que é o melhor da região mais próxima à casa da minha mãe, onde tem o maravilhoso Outback Steakhouse, e o Center Norte, onde tem de tudo e mais um pouco, sem contar minhas deliciosas memórias de infância naquele cinema onde vi "De volta para o futuro I" (e fiquei maravilhada), e no Viena, onde comíamos aquela taça enoooooorme.

Fico triste de assistir a decadência cada vez maior a cada vez que volto, e pensar que infelizmente são raras as chances de que aquilo volte a funcionar um dia, mas também percebo que sou muito cosmopolita, que amo o movimento, as coisas abertas 24h e os serviços rápidos e eficientes. É, nada é perfeito mesmo.....

Mas como estou muito feliz de estar em casa, e o Natal com meus pais foi divertidíssimo (graças ao videokê do nosso grande amigo Lee), quero deixar uma letrinha em homenagem à minha grande cidade natal (vídeo raro da TV Cultura, com Gastão [MTV] e a banda 365) - e também um texto da Danuza Leão. Sabe, quando li Danuza pela primeira vez achei-a um pouco amarga, não gostei. Depois li mais e mais e hoje adoro. Estou terminando seu último livro, sua autobiografia chamada "Quase tudo". É muito bom. Danuza esteve em todos os lugares, conheceu todas as pessoas, enfim, viveu plenamente. E ainda vive. Gosto muito dela. Esse texto fala da mulher, em como nós sofremos para sermos tudo o que esperam de nós. Não é fácil!!!

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Danuza Leão - Mulher

Quantas mentiras nos contaram...
Tantas que a gente bem cedo começa
a se achar culpada por ser incompetente
e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias
e felicidades.
Uma das mentiras foi que nós, mulheres,
podemos conciliar perfeitamente as funções
de mãe, esposa, companheira e amante,
e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não é sempre que podemos...
Quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido,
que na hora certa de mamar dorme e que à noite,
quando devia estar dormindo, chora com fome,
não consegue estar bem sexy quando o marido chega,
para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios
na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.
Aliás, nem a de companheira;
quem vai conseguir trocar uma idéia
sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho
e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa
e um molho pronto para resolver o jantar,
e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo
de fazer uma escova ?
Mas as revistas femininas estão aí,
querendo convencer as mulheres e os maridos
de que um peixinho com ervas no forno
com uma batatinha cozida al dente,
acompanhado por uma salada
e um vinhozinho branco é facílimo de fazer,
sem esquecer as flores e as velas acesas é claro
e com isso o casamento continuará tendo
aquele toque de glamour fundamental para que dure
por muitos e muitos anos.
Ah, quanta mentira.
Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha.
No começo, ela até tenta se vestir com capricho,
usar sapato de salto e estar sempre maquiada,
mas cedo se vão as ilusões.
Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde
e vai ver um bando de mulheres maltratadas,
com o cabelo horrendo, a cara lavada,
e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.
Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade.
Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele,
e quando se percebe a guerra já está perdida.
Não adianta: uma mulher glamurosa
e pronta a fazer todos os charmes,
aqueles que enlouquecem os homens,
precisa fundamentalmente de duas coisas: tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos,
lembrar de tomar seus 37 radicais livres,
tempo para a hidroginástica,
para ter uma massagista tailandesa
e um acupunturista que a relaxe;
tempo para fazer musculação, alongamento,
comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas,
depilação; e dinheiro para tudo isso
e ainda para pagar uma excelente empregada.
É muito interessante a imagem da mulher
que depois do expediente vai ao toalete
- uma toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria,
retoca a maquiagem, coloca os brincos,
põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai,
alegremente, para uma happy hour.
Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores
e de seus banheiros por lâmpadas âmbar,
os índices de produtividade iriam ao infinito;
não há auto-estima feminina que resista
quando elas se olham nos espelhos desses recintos.
Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco
- para decidir a roupa que vão usar no trabalho;
na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege,
para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.
Mas têm outras, com filhos já crescidos:
essas, quando chegam em casa,
têm que conversar com as crianças,
perguntar como foi o dia na escola,
procurar entender por que elas estão agressivas,
por que o rendimento escolar está baixo.
E ainda têm outras que, com ou sem filhos,
ainda têm um namorado que apronta,
e sem o qual elas acham que não conseguem viver
(segundo um conhecedor da alma humana,
só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão). Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade;
impossível para muitas, eu diria...


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