segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

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Hoje me deu vontade de falar um pouco sobre pessoas dissimuladas. Nada mais difícil de lidar do que a dissimulação constante e bem feita de uma pessoa vazia, que pensa estar atuando ao invés de vivendo a sua própria vida. Não falo de alguém em especial, já que uma pessoa de tão dissimulada poderia muito bem não existir, e estaríamos então falando de sua persona, aquela tão bem articulada e pensada, que os mais ingênuos acreditam ser real.

Ah, que espetáculo assistir à interpretação de um bom dissimulador!! Problemas? Que problemas? Vazio existencial? O que é isso? Frustrações? Mágoas? Raiva? Imagine, isso é para os pobres mortais que não precisam dissimular, que vivem sua vida honestamente. Soando grosseiros ou antipáticos às vezes, isso é lógico, já que pessoas de carne e osso costumam errar, odiar, invejar, e outros sentimentozinhos mundanos que parecem não afetar os dissimulados.

Em alguns momentos, para os olhos mais atenciosos, percebe-se a máscara QUASE caindo, o tom de voz muda de repente, os olhos ficam esbugalhados e afetados e há um ensaio de tique nervoso “a la Scrat” (A Era do Gelo). Mas anos de prática em dissimulação não são em vão, e rapidinho lá está de volta a gentileza em pessoa, com seus risinhos e cumprimentos falsos. Tenho que admitir que às vezes chega a ser assustador assistir a essa transformação tão rápida e automática, como se todo aquele “freakshow” fosse algo muuito natural.

Lamento pelas pessoas dissimuladas. Lamento que precisem dissimular para se encaixar ao mundo do qual gostariam de fazer parte, pelo menos de vez em quando, como os atores principais, e não sempre como aqueles figurantes dispensáveis, que não alteram muita coisa do enredo. Espero que também não achem que me enganam, que sou tão iniciante em relações humanas para cair nesse teatrinho bobo e infantil, simplesmente faço o meu papel de espectadora, fingindo que acredito no que eles também fingem que acreditam. Só peço que fiquem o mais longe possível. A vida passa muito rápido pra se perder tempo dissimulando.

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Não sou grande especialista em Literatura (apesar de amar!!), mas acho que o Pirandello é um dos autores que mais entende esse vazio existencial, que mais compreende os dissimuladores e suas personas, vide “Uno, Nessuno, Centomila”.


Alguns de seus pensamentos sobre o tema:

Nulla è più complicato della sincerità.

Esser civile vuol dire proprio questo: dentro neri come corvi, fuori bianchi come colombi; in corpo fiele, in bocca miele.

Basta che lei si metta a gridare in faccia a tutti la verità. Nessuno ci crede e tutti la prendono per pazza!

Oh, signore, lei sa bene che la vita è piena d'infinite assurdità, le quali sfacciatamente non han neppure bisogno di parer verosimili; perchè sono vere.